quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Capítulo XXXII - Olhos de ressaca.

          Tudo era matéria às curiosidades de Capitu. Caso houve, porém, no qual não sei se aprendeu ou ensinou, ou se fez ambas as cousas, como eu. É o que contarei no outro Capítulo. Neste direi somente que, passados alguns dias do ajuste com o agregado, fui ver a minha amiga; eram dez horas da manhã. D. Fortunata, que estava no quintal nem esperou que eu lhe perguntasse pela filha.
--Está na sala penteando o cabelo, disse-me; vá devagarzinho para lhe pregar um susto.
Fui devagar, mas ou o pé ou o espelho traiu-me. Este pode ser que não fosse; era um espelhinho de pataca (perdoai a barateza), comprado a um mascate italiano, moldura tosca, argolinha de latão, pendente da parede, entre as duas janelas. Se não foi ele, foi o pé. Um ou outro, a verdade é que, apenas entrei na sala, pente, cabelos, toda ela voou pelos ares, e só lhe ouvi esta pergunta:
--Há alguma cousa?
--Não há nada, respondi; vim ver você antes que o Padre Cabral chegue para a lição. Como passou a noite?
--Eu bem. José Dias ainda não falou?
--Parece que não.
-- Mas então quando fala?
--Disse-me que hoje ou amanhã pretende tocar no assunto; não vai logo de pancada, falará assim por alto e por longe, um toque. Depois, entrará em matéria. Quer primeiro ver se mamãe tem a resolução feita...
-- Que tem, tem, interrompeu Capitu. E se não fosse preciso alguém para vencer já, e de todo, não se lhe falaria. Eu já nem sei se José Dias poderá influir tanto; acho que fará tudo, se sentir que você realmente não quer ser padre, mas poderá alcançar?... Ele é atendido; se, porém... É um inferno isto! Você teime com ele, Bentinho.
--Teimo- hoje mesmo ele há de falar.
--Você jura?
--Juro. Deixe ver os olhos, Capitu.
Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, "olhos de cigana oblíqua e dissimulada." Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra idéia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...
Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno. Este outro suplício escapou ao divino Dane; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos cabelos de Capitou, mas então com as mãos, e disse-lhe,--para dizer alguma cousa,--que era capaz de os pentear, se quisesse.
--Você?
--Eu mesmo.
--Vai embaraçar-me o cabelo todo, isso sim.
--Se embaraçar, você desembaraça depois.
--Vamos ver.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Silêncio.


     Ausência de som, calmaria ou outra qualquer definição que vos seja confortável. Gosto de chamar carinhosamente de “Paz”. Sim, pois, nada melhor que alguns minutos de silêncio. Minutos esses que confortam, respondem, explicam e clareiam. Deixam tudo como está, ou mudam muitas coisas. Permitem-me imaginar cores, sentimentos, horizontes, amores. Palavras são tão desnecessárias, não é mesmo? Gosto da maneira como a ausência delas me faz refletir. Escrever. Só eu e meus pensamentos, meus desejos, minhas certezas.  Confesso que por vezes esse amor pelo silêncio se transforma em medo, sim, pois ele revela o que o barulho do dia-a-dia insiste em esconder: Um coração frágil, atordoado, tristonho.  Um coração que pede, silenciosamente, para se encontrar e ser amado. 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A perda do costume da escrita me deprime.

Faz tempo que não nos vemos “caro leitor”, e isso infelizmente ocorre pela falta de tempo, ou pra ser sincero falta de interesse. A verdade é que belos textos reflexivos surgem em momentos de tristeza e desilusão, momentos esses que eu não tenho vivido. Ao contrário. Minha vida tem sido repleta de felicidade, com alguns momentos obscuros, mas ainda sim, feliz. O que preciso aprender, de agora em diante, é expressar essa alegria rotineira em textos, pois escrever me faz falta. A perda do costume da escrita me deprime. Não é dessa vez que você, leitor, vai perder esse escritor amador e anônimo aqui. Não. Vou continuar a escrever, descrever, reviver e apontar o que me aflige, ou o que me faz sorrir. Vou continuar expressando em palavras o que se passa no meu coração. Por que a escrita é o pior dos vícios.

Pequenas mudanças, mas ainda sim, mudanças.

Prometi a mim mesmo que mudaria ao menos alguma coisa por aqui, e bom, o design mudou um pouco. Espero que curtam e desculpem a simplicidade, o maior valor desse blog se dá nos textos.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Aos poucos, devagar.

Não existe um ponto de vista certo. Não existe uma opinião concreta. Não existe uma decisão final, ou alguma coisa que possa definir o que fazemos. Não existem arrependimentos, mudanças, não existe perdão. Não existem palavras que desfaçam atos, nem sentimentos que faça o tempo se curvar e voltar. Não existe desejo de mudança da noite pro dia, nem se ganha confiança nesse meio tempo. Existe a conformação. Se conformar com a situação, é o melhor a se fazer, sempre. Existe não persistir, e com isso, evitar que a situação se torne insistente. O que existe, meus caros, é o tempo. Ele e suas lentas mudanças. Agora, medidas imediatas, essas são como paixões. Explodem assim que começam, mas não duram. Não se mantém. Não te apresses tanto em tentar mudar sua vida. Comece aos poucos, com pensamentos, palavras. Tudo que é bonito começa aos poucos. Devagar.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

É só o começo.



Existem anos bons, anos ruins, anos indiferentes, e os anos de transição. Assim costumo pensar. Anos de transição são anos de passagem, de escolhas, de preparação, mudança, anos que vêm a anteceder algo maior. 2011 está sendo assim. Um ano de términos, inícios, monotonia e tranqüilidade. Eu poderia escrever mil particularidades aqui, mais deixemos pra depois. O importante é considerar que, em destaque, esse ano, esteve a solidão. Incrivelmente, não tenho o que reclamar. A solidão é uma grande amiga, e de todos os casos, não vivo mal. Só que... O amor é trabalhoso e não ando muito a fim de trabalhar. Deixemos que 2012 nos surpreenda, ME surpreenda. Deixemos que venha mais um ano, mais desejos clichês e ilusões talvez. Mas se a situação não “melhorar” de alguma forma, eu vou bem. Como sempre fui. Nunca precisei de ninguém pra ser feliz, e caro leitor, é só o começo!

domingo, 20 de novembro de 2011

Considerações a vida.

Talvez você seja um mistério ainda não solucionado. Mas e daí? O pouco que vivi foi bom o bastante pra eu saber que posso, sim, ser feliz. Aliás, sempre fui. Já vivi amores, decepções, alegrias, tristezas, tantas coisas que me falha a memória. Olha que tudo isso com 15 anos e meio. Tempo não é nada. O importante é saber como vivê-lo. Dou minhas sinceras considerações a você, vida. Pois me ensinou que temos que passar por coisas ruins, para delas, tirar coisas boas. Ensinou-me que escolhas são o maior desafio que alguém pode encontrar. Ensinou-me também que o tempo passa, e leva com ele tudo. TUDO. Não trocaria nem em um milhão de anos a vida que tenho por outra. Às vezes chata, às vezes monótona, mas minha. Única e contínua vida que se segue. Lembranças, momentos, medos, incertezas. Doces sentimentos de quem pode olhar pra traz e dizer: Eu vivi.